“Um povo que não protege os avós e não os trata bem é um povo sem futuro”. A intenção do Papa Francisco para o mês de dezembro reascende questões ligadas ao envelhecimento, como aceitação, preconceito, exclusão e a necessidade de maior atenção e cuidados com os que ultrapassam os 60 anos de idade.
“Eles [os idosos] foram encarregados de transmitir a história de uma família, de uma comunidade, de um povo. Tenhamos presente os nossos idosos, para que sustentados pelas famílias e instituições, colaborem com a sua sabedoria e experiência, na educação das novas gerações”, rogou o Papa em seu pedido de oração.
A população mundial está envelhecendo. Informação divulgada no final de 2014, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), prevê que o número de pessoas idosas passará de 2 bilhões até 2050, tornando as doenças crônicas e o bem-estar da terceira idade novos desafios de saúde pública global. O envelhecimento é uma novidade para o ser humano, com a qual a sociedade ainda está aprendendo a lidar, afirmou a mestre em Gerontologia, Débora Guedes.
Segundo Guedes, além das dificuldades próprias da idade, o idoso ainda precisa aprender a lidar com o preconceito. “Infelizmente existem muitos preconceitos com relação a envelhecer, pois modelos atuais mostram qualificações apenas para a juventude. Ao mesmo tempo em que é desejado viver com longevidade, (…), é indesejado todas as características biopsicossociais que o envelhecimento traz. Então existe um grande conflito, nossa sociedade se cuida e deseja viver o máximo, porém repele os que chegam a ter mais idade”, analisou.
A coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa (PPI), Irmã Terezinha Tortelli, explica que, no Brasil, o envelhecimento também é visto como um fenômeno novo. Isso é perceptível pela invisibilidade com que as pessoas idosas, principalmente as fragilizadas, são tratadas nos convívios sociais e familiares.
De acordo com Tortelli, o Brasil apresenta atualmente o número de 26 milhões de pessoas com idade acima dos 60 anos de idade. Deste número, 13% — 4 milhões —, apresentam fragilidades que as tornam dependentes de acompanhamento e maior atenção, número ainda pouco assistido por instituições voltadas para a pessoa idosa. Segundo a religiosa, entre as entidades que prestam auxílio aos idosos, a PPI tem, talvez, o número mais expressivo de idosos ajudados. Porém, esse número que parece grande – 141.356 pessoas -, representa apenas 0,5% das pessoas idosas brasileiras hoje.
A Igreja e a valorização do idoso
Irmã Terezinha explicou que a PPI surgiu a partir da percepção dos bispos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) sobre a necessidade de criar uma pastoral específica para as pessoas idosas. E isso aconteceu após a Campanha da Fraternidade de 2003, que tratou desse assunto a partir do tema “A fraternidade e as pessoas idosas: vida, dignidade e esperança”. Iniciativa de Dom Aloysio José Leal Penna – falecido em 2012 —, a pastoral ficou sob os cuidados de Zilda Arns – médica pediatra e sanitarista – até o seu falecimento, em 2010.
Com aproximadamente 25 mil pessoas ativas dentro da pastoral – entre voluntários; coordenadores comunitários, diocesanos, paroquiais e estaduais; e facilitadores –, são realizadas visitas regulares a brasileiros da terceira idade, em 873 municípios de todos os estados do Brasil.
“Nós capacitamos pessoas para visitas domiciliares mensais, são visitas permanentes que criam vínculo entre a pessoa que visita e a pessoa visitada. (…) A intenção é que a pessoa idosa se sinta amada, querida, importante, alguém está dando importância para ela, alguém a está visitando todos os meses, com frequência (…). É uma maneira simples e singela, mas eficaz de resgatar a importância da pessoa idosa”, comentou Tortelli.
A visita tem consequências, como encaminhamentos obrigatórios a serem feitos após a criação de vínculos entre a pessoa visitada e a pessoa que visita, a criação de um clima fraterno na família, na vizinhança, e o enfrentamento de situações que impeçam o envelhecimento saudável da pessoa idosa. “Enfrentamos bastante situações de violência contra a pessoa idosa, o que gera encaminhamentos dolorosos para quem deve tomar providências”, contou Irmã Terezinha.
O lema da Pastoral é uma frase de São João Paulo II: “Que cada comunidade acompanhe, com uma compreensão amorosa, todos que envelhecem”. “Nós assumimos isso como um sonho que João Paulo II idealizou. (…) Está impresso em todos os nossos materiais educativos para voluntários”, contou.
Apesar do trabalho significativo da PPI, Irmã Terezinha acredita que ainda há muito o que ser feito, e destacou a importância da atenção do Papa Francisco à pessoa idosa como uma oportunidade de divulgação dos trabalhos da pastoral e o despertar de novos voluntários.
Por Canção Nova