“As feridas espirituais causadas pelos abusos sexuais” é o título de um longo artigo do Padre jesuíta Hans Zollner, publicado na última edição da revista “Civiltà Cattolica”.
Nele, o Presidente do Centro para a Proteção de Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana aprofunda o tema das terríveis consequências dos abusos contra menores, em particular, quando cometidos por sacerdotes e religiosos.
“Se alguém é abusado pelo pai – observa o jesuíta alemão – existe sempre um outro a quem dirigir-se para pedir ajuda: Deus. Porém se é um sacerdote que comete o abuso”, “então a imagem de Deus fica obscurecida e pode-se cair em uma escuridão e em uma solidão abismal”.
Padre Zollner, que é membro da Comissão para a Proteção dos Menores instituída pelo Papa Francisco, concentra-se justamente na “perspectiva” e no “sofrimento” das vítimas dos abusos, sublinhando o “trauma espiritual”, além do psíquico e físico, que é provocado quando o abusador é um representante da Igreja.
O sacerdote chama a atenção, então, para a “mentalidade de trincheira”que muitas vezes foi adotada pela Igreja, com a intenção de “resolver as coisas internamente, excluindo a dimensão pública, por temer pela própria reputação ou por aquela da própria Instituição”.
O resultado – adverte Padre Zollner – é que “se esquece quer o sofrimento das vítimas (que devem ser mantidas em silêncio), quer uma lei da mídia que afirma: “Cedo ou tarde as coisas vem à tona. Tome a iniciativa, reconheça o erro, desculpe-se honestamente e terás credibilidade”.
O artigo dedica um amplo espaço às “exigências” e “aos esforços” que hoje os católicos devem enfrentar em relação a este tema que – observa o jesuíta – pede um renovado compromisso e até mesmo de “rever o nosso modo de ser Igreja”.
“O Papa Bento XVI – ressalta Padre Zollner – que com coerência tomou providências contra os autores de abusos, mesmo em altos escalões, com a sua renúncia deu um excelente exemplo de como é possível administrar o poder (na Igreja)”.
O Papa Francisco, por sua vez, “não se cansa de estigmatizar as doenças do clericalismo e de uma vida cômoda, e de pregar um retorno à simplicidade e a urgência do Evangelho”.
“A luta contra os abusos – escreve ainda o Padre Zollner – terá ainda uma longa duração, sendo necessário por isto dizer adeus à ilusão, de que a simples introdução de regras ou de linhas guias, seja a solução para isto”. Esta – adverte – “implica uma conversão radical e uma atitude decidida para fazer justiça às vítimas e para a prevenção total”.
Certo – admite – “ninguém é capaz de derrotar definitivamente o mal, nem mesmo o de abusos contra os menores – o que seria uma presunção fatal – mas se pode fazer muito para reduzir o máximo possível o risco e aumentar a prevenção”.
Para o jesuíta, “hoje na Igreja universal o ponteiro da balança tende, lentamente mas com decisão, para a direção correta”.
O Papa Francisco – conclui Padre Zollner – continuou e fortaleceu a linha de seu predecessor, sobretudo com a instituição da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores. Ele criou assim, a nível de Igreja universal, as condições estruturais e materiais para poder acelerar com eficiência a tutela da infância em toda a Igreja Católica”.
Por Rádio Vaticano