Periferias tornam-se centrais no Pontificado de Francisco

0
384

Domingo passado, 19 de março, teve início o quinto ano de Pontificado do Papa Francisco. Após um intenso 2016, vivido no signo da misericórdia, no próximo sábado, 25 de março, o Santo Padre fará uma visita pastoral a Milão, em 2 de abril a Carpi – ambas no norte da Itália –, em 27 de maio irá Gênova – noroeste da Península.

No âmbito das próximas viagens apostólicas internacionais, em abril irá ao Egito, em maio a Portugal e em setembro à Colômbia. Trata-se de um Pontificado que se perfaz no signo da misericórdia e da atenção aos últimos, passando pelas periferias do mundo.

A propósito, a Rádio Vaticano entrevistou o bispo de Albano, Dom Marcello Semeraro, que é também administrador apostólico da Abadia de Santa Maria de Grottaferrata e secretário do grupo dos 9 cardeais, o C9, formado por Francisco para estudar o projeto de reforma da Cúria Romana:

Dom Marcello Semeraro:- “O tema da periferia o encontramos desde o início na linguagem do Papa Bergoglio, mesmo antes, nas homilias feita em Buenos Aires. O Papa tem muito a peito uma Igreja que sai de si mesma rumo às periferias. Aliás, o Evangelho teve início numa periferia, a Palestina era um canto periférico do grande Império Romano. Portanto, a periferia tem também um valor teológico, além do geográfico e, depois, também antropológico, obviamente, porque o Papa fala de “periferias existenciais”. Diria, então, que não podemos perder de vista o fato de o Evangelho ser periférico, porque parte propriamente de uma periferia. Temos várias periferias, como as periferias da alma: a ausência de luz, a ausência de amizade, a solidão, a angústia e outros medos. Depois, as periferias da existência: temos em nossas mãos a Exortação Amoris laetitia, aí temos as famílias feridas, as relações interrompidas. Ademais, tantas outras situações de dor, as periferias sociais, onde há pessoas que não contam nada e onde as decisões são tomadas em outros lugares.”

RV: O magistério do Papa se caracteriza também por seus gestos de comunicação humana…

Dom Marcello Semeraro:- “Não nos esqueçamos que de certo modo todos os Papas, ao menos aqueles dos quais me recordo, realizaram gestos que tocaram profundamente o nosso ânimo. Mas, em particular, recordaria alguns de Francisco. O gesto com o qual o Papa curvou-se na noite na qual se apresentou no balcão central da Basílica de São Pedro, antes de abençoar, pedindo a oração dos fiéis. E esse gesto do Papa que pede para ser abençoado e que toda vez pede sempre para que rezem por ele, é um gesto de grande simplicidade e humildade. Penso também em suas viagens, que quis começar em lugares de periferia. Penso também no simples fato de morar na Casa Santa Marta. Mediante gestos ordinários da vida, o Papa mostra, sobretudo, ser, ele mesmo, um homem como nós.”

RV: Uma das chaves do Pontificado é a presença da misericórdia na vida cotidiana e na relação com Deus…

Dom Marcello Semeraro:- “Celebramos um Ano inteiro sobre o tema da misericórdia e a misericórdia está no coração do Evangelho. A misericórdia é atrativa, tem força interior porque é o coração do Evangelho, o pilar do Evangelho.”

RV: Os valores da Doutrina social da Igreja mudaram no modo de ser comunicados e defendidos?

Dom Marcello Semeraro:- “Penso que não. Temos uma Encíclica do Papa Francisco que retomou, diria, levou adiante, instâncias que já estavam na Caritas in veritate de Bento XVI. Na Laudato si vemos um alargamento desses valores sociais. É claro, todavia, que o Papa nos recorda que não é desses valores que parte o anúncio do Evangelho, o Evangelho parte do encontro com Cristo.” É daí que depois, consequentemente, vem tudo, como o compromisso público, na Igreja, e todos os outros valores irrenunciáveis que dizem respeito à vida, dignidade do homem, à consciência e liberdade do homem. Mas têm um sentido porque brotam do Evangelho.”

RV: Podemos dizer que os cristãos vivem com Francisco um espécie de novo Concílio?

Dom Marcello Semeraro:- “Diria que sim. A grande herança que o Concílio nos deixou foi a de viver de modo ‘conciliar’. Hoje, usamos muito a palavra “sinodalidade”. Também esta, a meu ver, não significa comprometer-nos a fazer Concílios e Sínodos, mas viver de modo “sinodal’ significa encontrar-nos, começando por escutar-nos reciprocamente. Se falarmos sem antes empenhar-nos na escuta, se falarmos sem ouvir, corremos o risco de dizer palavras inúteis.”

Por Rádio Varticano