A alvorada anunciava o início de mais um Círio de Nazaré neste segundo domingo de outubro (8). Milhões de pessoas lotaram as principais ruas de Belém para louvar a Rainha da Amazônia na edição número 225 de um dos maiores eventos religiosos do mundo. Demonstrações de fé e muitas homenagens marcaram o percurso de 3,6 km, que este ano foi realizado em cinco horas, da Igreja da Sé à Praça Santuário. A procissão concluiu seu percurso às 11h20, quando chegou ao Centro Arquitetônico de Nazaré (CAN).
Segundo a Diretoria da Festa de Nazaré, dois fatores podem ter acelerado a procissão. O primeiro deles diz respeito a antecipação das interdições de ruas, que este ano foram feitas ainda no sábado (7). Assim, as ruas não forma ocupadas por veículos e houve mais espaço para a romaria fluir. Outro aspecto apontado pela Diretoria foi o corte antecipado da corda, ocorrido por volta de 9h10, pelos próprios promesseiros, quando a Estação Cinco entrava na avenida Nazaré.
Início da procissão
Ainda era cedo, 5h, quando milhares de devotos já esperavam a cerimônia que antecede o início da procissão em frente à Igreja da Sé, onde terminou a Trasladação na noite de sábado (7). A missa foi presidida pelo Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira. Cerca de 150 sacerdotes, além de co-celebrantes, participaram da celebração.
O trajeto relembra a história do achado da imagem original de Nossa Senhora de Nazaré, inicia em frente à Catedral de Belém, segue pela Praça do Relógio, avenida Portugal, Boulevard Castilhos França, avenida Presidente Vargas e avenida Nazaré.
Sem queima de fogos
Outro fato marcante desta romaria foi a suspensão da queima de fogos na Praça dos Estivadores, tradição realizada há 103 anos. A proibição da homenagem foi anunciada poucas semanas antes do Círio pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup).
Segundo o órgão, por medidas de segurança, a queima de fogos deveria ser realizada em uma balsa, na Baía do Guajará. Mas os estivadores não concordaram com a alternativa e criticaram a diretoria da festa de Nazaré por não tê-los consultado.
“Nós começamos a arrecadar o dinheiro de um ano para o outro e 20 dias antes do Círio eles vêm nos informar que não vamos poder realizar. O que vamos fazer com esses R$ 52 mil em dinheiro investidos que foram agora jogados no lixo?”, critica presidente do Sindicato dos Estivadores do Estado do Pará, Moisés Sousa.
Homenagens
O percurso é marcado por homenagens de empresas, instituições e devotos, que pedem ou agradecem por graças alcançadas. Chuva de papel picado, pétalas de rosas, corais e bandas ficam prontos para a passagem da santa.
A empregada doméstica Maria Ribeiro acompanhou a procissão levando uma casa para pagar uma promessa. “Ano passado eu fiz a promessa de comprar uma casa. Graças a Deus consegui e hoje estou pagando a promessa pela intercessão de Nossa Senhora”, disse a devota, que mora em Ananindeua.
Ao longo dos anos, alguns elementos foram incorporados à grande romaria, como a berlinda, carro especial para a condução da Imagem Peregrina, puxado pelos devotos; a corda de 400 metros, divididas em cinco estações e dois núcleos; e os 13 carros de promessa conduzidos por estudantes que recolhem os votos de promessa.
Promesseiros da corda
Promesseiro, Ricardo Almeida e o grupo de amigos puxam a corda. “O que traz a gente aqui é a motivação de ser abençoado pelas graças que Nossa Senhora deu pra gente. Nosso troféu é estar aqui na corda e nós amigos de fé já participamos há mais de 10 anos e a emoção tá quase explodindo o coração”.
Eurico Tourinho e a família estavam na corda próximo de onde foi cortada. Mesmo assim eles seguiram acompanhando. “Ir na corda é uma renovação espiritual, é a fé que nos move. A gente pede cada vez mais pais e harmonias pra todas as famílias. Com tanta violência a gente só tem a pedir paz”, disse.
Bianca Oliveira estava com os olhos cheios de lágrimas, mas mesmo cansada seguia firme sendo levada pela corda do círio. “Acompanhar na corda é indescritível, a energia que a gente sente aqui é enorme por que essa emoção faz todo mundo querer cumprir sua promessa. A gente acaba se sentindo contagiado com a nossa fé e com a fé de todo mundo”, disse, entre as lágrimas.
Na última das estações, Édeu Araújo estava emocionado e feliz por acompanhar na corda, mesmo com o cansaço. “É uma emoção muito grande e uma fé que a gente sente pra continuar se esforçando. Aqui é uma união, um calor humano. Com muita fé e esperança gente pede e a gente recebe da nossa mãe”, disse.
Em 2014, a organização do Círio recebeu, oficialmente, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o certificado de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade do Círio de Nazaré. A devoção dos fieis mantém viva esta tradição.
A dona de casa Gilvana Costa carregava o livro da filha que passou na Universidade Federal do Pará, no curso de Letras. “Eu prometi que se ela passasse eu vinha com o livro dela na cabeça. E vim, pra agradecer”, contou.
O professor Thiago Rodrigues mora em Castanhal. Ele conseguiu um pedaço da corda para ser abençoado e estava na procissão para pedir a saúde dos filhos pequenos, para quem ele diz que vai passar a tradição de fé. “Quando meu primeiro filho nasceu eu prometi cinco anos indo na corda. Quando o segundo veio, prometi mais cinco anos. Vim nela desde quando foi atrelada até quando cortaram aí eu peguei um pedaço para benzer e esperar a santa passar pra fechar o Círio com chave de ouro”.
Segurança
A Diretoria da Festa de Nazaré trabalhou o ano inteiro em parceria com os órgãos de saúde, segurança e trânsito para garantir melhor fluidez e segurança nas romarias. Em 2017, as vias do corredor do Círio e suas transversais foram fechadas mais cedo, um dia antes, para garantir maior organização das procissões.
Por G1