A comunicação como ferramenta de transformação social reuniu agentes comunicadores da Amazônia Legal, na capital do Amazonas, Manaus.
A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e a Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com o apoio da Comissão Episcopal dos Estados Unidos da América, promoveram de 20 a 25 de setembro de 2016, em Manaus (AM), o curso “Comunicação para a transformação social”. O encontro reuniu agentes sociais dos nove estados que compõem a Amazônia Legal, além de entidades e organismos da Igreja Católica do Brasil, Colômbia, Equador e Peru.
A comunicação como promoção e diálogo interativo entre os povos
No encontro, veio à tona uma infinidade de ações em que voz, cidadania e o coletivo estiveram no centro como valores essenciais, no compartilhamento de princípios e práticas de transformação social. Refletiu-se sobre o ressurgimento de práticas multilaterais de comunicação que provocam mudanças. O jornalista Pedro Sánchez, responsável pela comunicação da REPAM e facilitador do curso, atentou aos participantes à chamada para um processo de desenvolvimento comunicacional inclusivo, no qual os desempregados, as crianças, os jovens, as mulheres, os pobres, os marginalizados, ou simplesmente o cidadão de baixa renda precisa ser ouvido. Sánchez chamou à compreensão da comunicação como processo de compartilhar valores. “A função da comunicação não é apenas informar, mas transformar a realidade. A luta dos povos deve ser o mais importante para o comunicador. A nossa comunicação deve estar sempre preocupada com o outro. As ferramentas e os meios precisam ser utilizados para isso: comunicar e gerar transformação. É preciso entender a comunicação como promoção e diálogo interativo entre os povos. Comunicar é lavar os pés do irmão, estar a serviço dele”, recorda o jornalista peruano.
Sánchez lembrou que as grandes mudanças no desenvolvimento da sociedade têm sido, historicamente, artifícios que principiaram de baixo para cima, desenvolvendo-se a partir de grupos de pessoas que se mobilizaram, se organizaram e defenderam seus casos, comunicando suas causas e alcançando seus direitos.
Trabalho diferenciado em favor da Amazônia
Dom José Albuquerque, bispo auxiliar da Arquidiocese de Manaus agradeceu e motivou aos participantes, bem como o trabalho que a Comissão para a Amazônia realiza na região. “Reconhecemos o trabalho diferenciado que a Comissão Episcopal para a Amazônia tem realizado em favor da Amazônia para nos integrarmos nesta missão em que há diversas realidades e suas inúmeras facetas. Nosso agradecimento a vocês que vieram e se tornam incentivo um para o outro no amazonizar a Amazônia, comunicar as belezas que aqui existem, mas também denunciar toda a dinâmica de morte que há por aqui” enfatizou o bispo.
Comunicação em rede amazônica
Irmã Irene Lopes, assessora da Comissão Episcopal para a Amazônia e membro da coordenação do curso, lembra que a iniciativa do curso propõe a criação de uma rede de comunicadores que atuam na Amazônia Legal. “A partir do conhecimento da REPAM, da integração em rede e das experiências já existentes, desejamos comunicar e conectar a Igreja que aqui acontece. Pretendemos que essa formação contribua para articulação da comunicação na Amazônia, formando trabalho integrado, em rede, que possa mostrar as experiências de defesa a vida e da diversidade desta terra.”
Anúncio e denúncia
Padre Raimundo Vanthuy Neto, diretor do Instituto de Teologia Pastoral e Ensino Superior da Amazônia (ITEPES), propôs dois horizontes para a comunicação da Repam-Brasil: anúncio e denúncia. “Precisamos anunciar a beleza e pluralidade das formas de viver, da beleza da vida, dos valores dos povos, da floresta, das águas, mas também comunicar a denúncia”. Para ele, é preciso gritar para o mundo como é grande o número de mortes na região, a destruição das florestas, dos rios, com os grandes projetos das hidrelétricas.
O curso está organizado em dois módulos e, a partir do método Educação Popular, busca encontrar respostas aos desafios da comunicação e como atuar no cuidado e defesa da Casa Comum.
Os participantes do curso, que terá seu segundo módulo em 2017, são dos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Também participam representantes dos estados Rio Grande do Sul: Rede Marista; São Paulo: Irmãs Paulinas; Brasília: Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), Pontifícias Obras Missionárias (POM) e Cáritas Nacional; Cáritas Equador; e representante do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM).
A história da vida dos povos no centro da comunicação
Para o agente de pastoral do regional Noroeste da CNBB, Antônio da Encarnação, da Humaitá (AM), o encontro revigorou as forças e o renovou na compreensão do que é ser um comunicador. “Quebrou alguns paradigmas que me acompanharam durante muito tempo no serviço à comunicação. A história de vida dos povos deve ser centro e que agora, por exemplo, ao mostrar uma enchente, devo sobretudo, sentir a angústia do atingido, sentir o sofrimento dos atores envolvidos no drama”. Antonio recorda a fala do escritor e dramaturgo amazonense Márcio Gonçalves Bentes de Souza: ‘A Amazônia é uma pátria de mitos, onde existe uma profunda interação entre o homem e a natureza. Que cada rio poluído é uma página de livro castrada e que cada árvore cortada é uma página de livro rasgada’. Meu mundo é a Amazônia, por isso, me comprometo a articular o meu regional a comunicação de nossos povos amazônidas, ajudar na conscientização de nossos líderes maiores até a construção de uma rede forte de comunicação deste pedaço de chão que é capaz de cumprir esse desafiante pedido do papa Francisco em defender a vida dos povos amazônicos e sua imensurável biodiversidade”, destaca Antônio.
Por Rádio Vaticano