Se houvesse vida em outros planetas, a fé católica mudaria?

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Na última quarta-feira, a NASA anunciou a descoberta de um sistema com planetas semelhantes à Terra e nas redes sociais surgiu a pergunta de como a eventual descoberta de vida extraterrestre poderia mudar o cristianismo e a sua visão do universo.

Segundo informações da NASA, o novo sistema planetário está a 40 anos-luz de distância e possui sete planetas com uma massa semelhante a da Terra. Além disso, três destes estão em uma zona habitável e poderiam existir oceanos de água na superfície, aumentando a possibilidade de acolher vidas.

Em 2012, o então diretor do Observatório Astronômico do Vaticano, o jesuíta argentino José Gabriel Funes, afirmou que, mesmo que existam grandes probabilidades de que haja vida fora do planeta Terra, isso não mudaria a visão cristã do universo. “Não vejo nenhuma dificuldade para a fé católica”, assegurou.

Em declarações ao Grupo ACI, o sacerdote assinalou que se houver vida extraterrestre, “os católicos não precisamos mudar a nossa visão do universo”, porque “Deus, em sua liberdade, poderia ter criado também outras criaturas inteligentes e podem fazer parte da criação”.

Segundo o Pe. Funes, estes seres “poderiam relacionar-se com Deus, assim como nós” e a sua existência não estaria em contraposição com a existência de Jesus Cristo.

O sacerdote explicou que tudo é reduzido a probabilidade. Considerando que o universo foi criado com cem bilhões de galáxias e, “se dividimos as galáxias na população mundial, cada pessoa teria 14 galáxias, cada galáxia é formada por cem bilhões de estrelas”.

Então, é possível “que cada uma dessas estrelas tenha planetas girando ao redor de outras estrelas, como fazem ao redor do Sol. E, portanto, seria possível a existência de vida no universo”.

“É muito bom o que nós sabemos, porque podemos reconstruir a história do universo desde os primeiros instantes até a formação da Terra, dos planetas, isto não está em contradição com a fé, nem com o que aprendemos na mensagem bíblica e também na reflexão teológica. O que sabemos pela fé, e também pela razão, não só pela fé, é que Deus é o criador, um Pai bondoso, que nos sustenta no ser, no existir”, disse.

Neste contexto, recordou que o universo “existe graças à vontade de Deus e, como diz a Bíblia, ‘ao terminar de criar viu Deus que era bom… ’, também deve nos ajudar a ver a bondade do universo, olhar também com olhos de bondade para a história da humanidade e para a nossa própria história na terra”.

“De qualquer forma, por enquanto, não temos nenhum resultado. Não há nenhuma evidência de que exista vida fora da Terra. Esta descoberta poderia acontecer amanhã. Talvez em mil anos ou nunca aconteça” e “que alguma vez tenhamos uma evidência de que há vida, depende da ciência, caso contrário, é inútil especular”, assinalou.

O Pe. Funes estudou licenciatura em Astronomia em 1985, depois, ingressou na Companhia de Jesus e, após sua ordenação sacerdotal, estudou o doutorado em astrofísica na Universidade de Pádua (Itália). Em seguida, os superiores da sua congregação o enviaram como astrônomo ao Observatório do Vaticano e, em 2006, o Papa Bento XVI o nomeou como diretor do organismo.

O Pe. Funes assinalou que o Observatório “tenta construir uma ponte, uma ponte entre a Igreja Católica e os cientistas, especialmente com os astrônomos. É um desafio entusiasmante, que também permite chegar a um público maior, porque há temas muito interessantes, a origem do universo, a possibilidade de vida extraterrestre”.

Neste sentido, explicou que a relação entre ciência e fé ocupa um lugar muito importante para o Santo Padre e “pode-se ver nas suas homilias, nos seus discursos … sobretudo, para o Observatório Vaticano e para os outros observatórios no mundo. 2009 foi um momento muito importante, porque foi o ano internacional de astronomia. Durante esse ano, o Papa (Bento XVI) se referiu muitas vezes de maneira especial à astronomia e, no mesmo ano, o Pontífice inaugurou as novas instalações do observatório”.

É possível afirmar que a criação do Observatório Vaticano, como é conhecido atualmente, foi em 1891, quando o Papa Leão XIII pretendeu demonstrar que a Igreja não se opõe ao desenvolvimento científico e que, muito pelo contrário, promove a ciência de grande qualidade.

Atualmente, o Observatório Astronômico do Vaticano é dividido em dois grupos, um grupo com uma sede histórica nos jardins pontifícios de Castel Gandolfo e outro no Monte Graham, Tucson, Arizona (Estados Unidos), no qual os investigadores, principalmente sacerdotes jesuítas, têm o telescópio mais importante. É um dos centros astronômicos mais importantes do mundo.

Por ACI Digital