Bento XVI projetou a Igreja na modernidade, diz vaticanista da TV 2000

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“Os temas tratados por Joseph Ratzinger ao longo de sua vida, como professor de teologia, bispo, cardeal e depois Papa, são temas hoje de grandíssima atualidade e continuarão a ser objeto de debate também no futuro. Por isto, reconstruir a sua experiência humana, científica e eclesial, é tão interessante”.

A observação é do escritor e jornalista, Giovan Battista Brunori (vaticanista da tg2, o telejornal do canal dos bispos italianos), autor do livro “Bento XVI. Fé e profecia do primeiro Papa emérito na história”.

Humilde, mas livre e determinado

“Acredito que seja um homem de Igreja que foi e permanece, evangelicamente,  como um “sinal de contradição” para os nossos tempos. Foi um Papa capaz, de fato, de dar início a diversos debates. Um Papa de pensamento, o Papa da palavra, dos documentos, da mensagem evangélica. Uma mensagem proferida com humildade, mas ao mesmo tempo com determinação, que foi ocasião de encontro mas, algumas vezes, também de confronto. Neste sentido, eu diria que Ratzinger quis lançar uma palavra humilde, mas não tímida, em um mundo que perdeu em muitos casos a bússola. Nos chamou ao essencial da fé, defendeu a fé dos simples e relançou a luta contra o relativismo, dando-nos uma mensagem que permanece válida. O fato de ter afirmado com grande franqueza, mesmo diante de foros laicos, esta sua extrema liberdade de juízo, surpreendeu a todos”.

O encontro com a França laica

“Penso sobretudo no seu extraordinário encontro com a França laica (viagem de 2008 ndr) e ao seu discurso no ‘Collège de Bernardins’. O Pontífice – recordou Brunori – foi acolhido com muitas críticas, normais em um país laico, onde a presença anticlerical é muito forte, e onde muitos viam nele o custódio da tradição católica. E soube surpreender seus interlocutores, falando das origens do mundo cultural ocidental, tão ligadas à experiência religiosa do monges. Mas também em outras ocasiões, soube lançar mensagens que fizeram questionar, foram sinais de contradição, fermento de novas ideias e processos”.

Uma renúncia que abriu uma era

“Pensemos sobretudo, na histórica renúncia ao Pontificado – ressalta o jornalista. Um gesto que desconcertou o mundo, surpreendeu não somente os detratores de Bento XVI, mas também lançou num estado de confusão os chamados “ratzinguerianos”. Assim fazendo, acredito, projetou a Igreja na modernidade. Pela primeira vez um Papa apresentou o tema da renúncia por velhice, na consciência de que a Igreja é guiada realmente por Deus, com mão firme. Demonstrou coragem e desejo de reformar a Igreja, uma renovação que hoje leva em frente Francisco”.

Sintonia extraordinária com Francisco

“Hoje existe uma sintonia entre o Papa Francisco e o Papa emérito que é realmente extraordinária. E isto se percebe nos temas de fundo, para além das diferenças de personalidade que são evidentes e acredito que sejam uma riqueza para a Igreja. Diz o Cardeal Herranz em uma entrevista que incluí no livro, que o Senhor utiliza o piano e toca teclas diferentes. Uma vez toca uma tecla e produz um som e depois toca outra tecla. Dois Pontífices que têm, portanto, um temperamento diferente, mas em substância, têm a mesma missão. A sintonia deles é um sinal da eficácia e modernidade da Igreja. A essência é que a Igreja é feita de diferenças que convergem em uma harmonia e tudo isto produz, na minha opinião, uma semente de novidade: a negação de toda homologação na Igreja, que surpreende o mundo e leva a interrogar-se”.

Por Rádio Vaticano