Na manhã desta quarta-feira (22 de junho) em Roma, a Diocese de Uruaçu teve a honra de ter seu segundo doutor graduado. Pe. Francisco Agamenilton Damascena, 40 anos, sacerdote pertencente ao clero da Diocese de Uruaçu – Goiás, defendeu sua tese de doutorado “Rumo ao pluralismo personalista com base no personalismo de Karol Wojtyla” a qual obteve nota máxima, Summa cum Laude.
Via telefone, Padre Agamenilton concedeu entrevista à Pascom da Diocese de Uruaçu. Acerca de sua tese.
Ouça:
Leia a transcrição:
PORTAL: “Rumo ao pluralismo personalista com base no personalismo de Karol Wojtyla.” Como foi o processo de escolha do tema para defesa? Explique-nos um pouco sobre sua tese.
PADRE: “Esta tese que eu acabo de concluir no doutorado em filosofia ela tem a sua história. Tudo começou desta minha observação em relação à sociedade dos dias de hoje. Passei a observar que as diferenças elas são cada vez mais acentuadas, cada vez mais intensas e agressivas umas com as outras; nós notamos que hoje há vários pontos de vista sobre vários assuntos, há muitas diferenças de grupos religiosos, de ideias, as diferenças entre partidos políticos, as diferenças entre as opiniões pessoais, elas eram cada vez mais numerosas e entre elas era cada vez mais agressiva, ou seja, é o fato do pluralismo. Hoje a nossa sociedade é extremamente pluralista. E o pior é que este pluralismo que hoje vigora é um pluralismo muito individualista e em certo modo bastante agressivo, onde cada parte quer se manter ‘no seu quadrado’ digamos assim, e eliminar o outro. Daí então eu passei a me perguntar: Mas é possível para nós então vivermos juntos? A partir desta pergunta se era possível vivermos juntos, comecei a pensar então na elaboração desta tese, e como resposta, eu vejo que sim, é possível viver juntos. Mas, para viver juntos era preciso estabelecer um ponto de união, um ponto de convergência, que tornasse possível a coexistência das várias partes, das diferenças na sociedade. Que ponto de convergência seria esse? No meu entender seria a pessoa humana. Mas a pessoa humana ela é compreendida de muitos modos, há diferentes maneiras de compreender aquilo que nós somos. Mas entre as várias compreensões do que é pessoa humana, qual seria melhor para podermos então propor este novo tipo de pluralismo? É assim então que eu chego a Karol Wojtyla como aquele que apresenta uma proposta mais adequada para a construção deste tipo de pluralismo que eu chamei de pluralismo personalista. Ou seja, um tipo de pluralismo no qual a pessoa humana está no centro da sociedade ou do próprio plural, e consegue assim ser um ponto de convergência para todas as partes. De modo muito sintético é esta a história, o percurso da tese que acabo de defende-la.”
PORTAL: Qual a influência de Karol Wojtyla, hoje São João Paulo II, para a igreja e sociedade?
PADRE: “Então, para a igreja, eu diria que o Papa João Paulo II, São João Paulo II, ele é uma pessoa que ajudou bastante a colocar em prática o Concílio Vaticano II, do qual ele mesmo participou e deu a sua contribuição, especialmente na elaboração do documento Gaudium et Spes (“Alegria e Esperança” em latim). Ele como bispo, assim que concluiu o Concílio, voltou a Cracóvia e ali fez um trabalho muito intenso de reflexão e de implementação das orientações dadas pelo Concílio Vaticano II. E uma das grandes indicações do Concílio foi o diálogo com o mundo e João Paulo II fez isso. Então, é uma grande influência e contribuição para a igreja de João Paulo II é de ser um grande promotor do diálogo. Ele por primeiro fez isso. Aliás, desde a sua infância, Karol Wojtyla, foi uma pessoa extremamente aberta que conviveu com as diferenças dos da sua cidade, especificamente os judeus, foi amigo de muitos judeus. Isso se refletiu depois no seu ministério Petrino, toda a sua aproximação, o estabelecimento de pontes entre o mundo cristão e o mundo hebraico. Então eu diria que um ponto muito importante de influência de João Paulo II é a promoção do diálogo. Mas também muito mais importante, João Paulo II recordou para a própria igreja que, Cristo é o centro de tudo, que Cristo é vida para o mundo, Cristo é o amor do qual o mundo tem sede. Portanto, é importante anunciar Jesus Cristo, importante propor o evangelho, propor o caminho de Jesus Cristo que é verdade, vida e caminho. E então o aspecto missionário. João Paulo II dá um grande impulso missionário, sendo ele por primeiro um exemplo de discípulo missionário de Jesus Cristo. Ele também trouxe na dimensão doutrinal, na dimensão da reflexão teológica e filosófica para o interno da igreja, João Paulo II ele trouxe um novo modo de ver a pessoa humana que é resultado do seu percurso, da sua atividade acadêmica quando ela foi padre e também bispo na Polônia, como Cardeal. João Paulo II ele influencia no pensamento do magistério, trazendo para esse toda a dimensão da subjetividade da pessoa humana. Era um aspecto já presente, mas de modo muito implícito e um pouco assim muito tímido e João Paulo II então acentua, destaca fazendo as suas devidas correções e assim dando a subjetividade da pessoa humana um lugar que ela merece. Para a sociedade de modo geral, eu diria que a grande influência de João Paulo II é como um exemplo, um exemplo grande de autoridade moral de uma pessoa autêntica fiel à sua própria missão e também um grande exemplo de solidariedade. João Paulo II é para sociedade um motivador, alguém que influencia, alguém que foi um marco importante de solidariedade e de pessoa e de diálogo.”
PORTAL: E na vida do senhor padre, qual a importância de São João Paulo II?
PADRE: “Minha experiência com São João Paulo II. Algumas pessoas tem uma experiência espiritual com João Paulo II, uma experiência vocacional, uma experiência de uma graça recebida. Eu diria que a minha experiência com João Paulo II foi uma experiência muito mais humana, uma experiência acadêmica. Em qual sentido? No sentido que eu e João Paulo II, o que aconteceu: lendo os seus escritos, suas obras, seu pensamento na linha filosófica, João Paulo II me ajudou a me entender e a entender o outro na sua importância, na sua dignidade, enquanto pessoa humana. Então essa, eu diria, que é a importância de São João Paulo II para mim. Quando eu lia os seus escritos, eu dizia: não, mas, ele está falando comigo, ele está falando de mim! A gente é assim mesmo, esse homem entende a gente, ele sabe quem nós somos e a direção que ele aponta é interessante. Esse homem fala da vida como ela é. Então nesse aspecto é que João Paulo II é importante para mim. É a partir dessa experiência humana e acadêmica que eu vivi com ele ainda no tempo dos meus primeiros estudos filosóficos, quando eu fiz um seminário sobre a sua obra prima chamada A Pessoa e a Ação, é lá que começou, lá que ele passou a ser mais ainda importante na minha vida pessoal.”
PORTAL: Quanto tempo de estudos? Partilhe conosco a experiência de passar este período fora do país e da diocese dedicando-se ao doutorado.
PADRE: “Foram três anos e meio de estudos aqui em Roma. Eu lhe diria que ficar fora do país, longe do Brasil, não foi para mim o fim do mundo. Não foi aquela última coisa, algo desesperador. É verdade, sim, eu senti falta do Brasil, minha pátria, minha casa. Interessante quando nós estamos fora do Brasil, as coisas mais banais para quem está no Brasil, é quando a gente está fora, essas coisas mais banais se tornam muito importantes, é uma experiência muito particular. Mas de todo modo, mesmo não sentindo uma falta desesperadora, de todo modo eu queria terminar os estudos e voltar para casa. Nossa casa, minha casa é o Brasil. Estar fora do Brasil e particularmente estar em Roma, é uma experiência, uma experiência de tocar com as mãos o que significa dizer creio na Igreja Católica. Esse termo ‘católica’ está ligada à universalidade da igreja, essa beleza que é a nossa comunidade de fé, a unidade na diversidade, a diversidade na unidade. Aqui em Roma, a gente respira essa universalidade da igreja. Para você ter uma ideia, eu morei em uma casa de padres vindos de 15 países. Éramos de todos os continentes, tem várias igrejas, várias dioceses estavam ali representadas. Então as riquezas dessa diversidade de fé e cultura são imensas e traz um grande contributo, para a gente mais ainda crer na catolicidade da igreja. Mas também, é passar a se estudar fora do país, especialmente estudar aqui em Roma tem uma grande vantagem também do acesso à literatura, que talvez no Brasil seria quase impossível. No meu caso, na minha temática, tenho certeza aqui no Brasil seria impossível encontrar livros que aqui eu encontrei. As bibliotecas das Universidades de Roma elas são uma preciosidade no seu acervo, então isso contribui bastante para a qualidade do nosso estudo.”
PORTAL: A tese do senhor teve aprovação Summa cum Laude, o que lhe permite publicação. O senhor já tem alguma expectativa? Podemos esperar para quando?
PADRE: “Eu recebi a autorização para publicação integral da tese. Isso quer dizer que eu terei que providenciar 40 volumes da tese, e entregá-los posteriormente para a secretaria da universidade, e a secretaria distribuirá esses volumes para as bibliotecas aqui de Roma. Esse passo da publicação, ele é obrigatório para o título de Doutor. Quando nós defendemos a tese, ao final, a comissão nos dá a nota e nos indica o que publicar. Se a publicação pode ser parcial ou integral. No meu caso foi integral e ela é obrigatória para ter o diploma final e então você é reconhecido realmente como doutor em filosofia. Outro aspecto é a publicação da tese como um livro, a disposição das pessoas. Mas isso é um outro assunto. Eu confesso-lhe que tenho sim o interesse de fazer isso, de fazer dessa tese um livro, e penso já em dar alguns passos, mas quando este livro estará nas bancas, quando este livro estará à disposição das pessoas é uma pergunta que eu ainda não sei responder, mas vamos dar passos, vamos dar passos.”
PORTAL: A diocese de Uruaçu tem a honra de ter seu 2° doutor. O primeiro foi o Padre Crésio em Direito Canônico e agora o senhor. Partilhe conosco esta emoção de poder contribuir academicamente para a igreja católica e em especial, para a igreja particular de Uruaçu.
PADRE: “Esta igreja me formou, a Igreja Católica ao longo da sua história, ela tem essa característica, este serviço prestado a seus filhos, é de muito valor. A igreja nos forma, a igreja contribui no nosso crescimento como pessoa, como filhos de Deus e agora eu, formado por dentro da igreja, tendo dado este passo no meu caminho acadêmico eu quero agora compartilhar, compartilhar com a igreja, compartilhar com seus membros, compartilhar com nossa diocese de Uruaçu e porque não dizer compartilhar com todo mundo, ou seja, com quem não é católico, o que aprendi ao longo desses anos, para que melhor entendendo as coisas desse mundo, nós possamos não somente sermos pessoas melhores, mas também servir melhor a Deus. Eu gostaria de pontuar uma questão que eu entendo ser importante: eu não fiz um doutorado em ‘tudologia’, ou seja, eu não sei tudo. Eu não fiz ‘tudologia’, fiz filosofia, não sei tudo. O que sei quero transmitir, e o que não sei quero aprender com os outros e continuar a crescer. Tenho muito ainda que aprender, tenho muita estrada a percorrer e quem estará ao meu lado, me ajudará muito nesse percurso. Até então está certo o meu trabalho no seminário Diocesano São José, em Uruaçu. Ele começa agora em agosto, próximo semestre. E ali onde temos o curso de Filosofia eu darei aulas para os seminaristas no curso de Filosofia. Outras atividades na linha de formação dos leigos, nas diferentes pastorais, poderão surgir certamente e eu quero sim contribuir, estou à disposição para isso. Um exemplo é o caso dos trabalhos da comissão de serviço da vida plena, como atividade de implementação e execução do plano Diocesano de pastoral da Diocese de Uruaçu. Estou nessa comissão e, logo logo começaremos as atividades e aí estou pronto para contribuir com essa comissão que está coordenada pelo padre Jefferson, pároco da paróquia Nossa Senhora da Abadia em Campinaçu. Então assim, a igreja me formou, a igreja contribuiu nesse passo na minha vida, e agora é minha vez de retribuir. É questão de Justiça, de responsabilidade, questão de serviço e conto com ajuda de Deus e também com ajuda das pessoas para continuar aprendendo.”
A Pascom da Diocese de Uruaçu agradece padre Francisco Agamenilton por sua disponibilidade e o parabeniza pela conquista. Que Deus o abençoe ricamente.
Pascom Diocese de Uruaçu