Falando de justiça no mundo moderno: as bases teóricas e orientações práticas

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Na sua exortação apostólica, Gaudete et Exsultate, o Papa Francisco reflete nos n. 77-79 sobre a sede e a fome como realidades inerentes ao ser vivo. Essas necessidades primárias, aponta o Pontífice, estão ligadas ao instinto natural de sobrevivência, apesar de existirem pessoas que com igual intensidade aspiram a justiça.

Consideramos que buscar a justiça, cristãmente falando, é o mesmo que buscar a santidade. Jesus nos ensina com palavras e obras a vivenciá-la em todas as suas complexas nuances, a fim de evitar os interesses mesquinhos e as armadilhas da vida corrupta. Desse modo, o homem justo é aquele que vive na verdade e em harmonia com o seu próximo e com Deus.

Existe um ordenamento no universo a que todos os que o integram estão sujeitos. Esse ordenamento corresponde à lei eterna, por meio da qual tudo ocupa o seu devido lugar e está orientado para o bem; da lei natural inscrita na natureza do sujeito; da lei divina que procede da revelação de Deus; da lei positiva, que constitui um conjunto de postulados que regulam a convivência humana em sociedade. Quando alguma dessas leis é transgredida, desajusta-se os pesos que equilibram a vida e uma desordem é originada com efeitos bastante ruins. É nesse momento que percebemos o nascimento das injustiças.

Consideramos que buscar a justiça, cristãmente falando, é o mesmo que buscar a santidade. Jesus nos ensina com palavras e obras a vivenciá-la em todas as suas complexas nuances

Como base no que expomos acima podemos afirmar: o injusto é o que foge da lei, o ganancioso e o desigual. Quando alguém quer o que é do outro, é uma pessoa ambiciosa e egoísta, e se ela emprega meios para tirar o que não é seu, torna-se injusta. Em contraposição, o justo é generoso, vive de acordo com a lei e preza pela igualdade. Quando medimos suas ações dentro da comunidade, percebemos o quanto elas engradecem os seus componentes.

Tendo estabelecido esses pressupostos, podemos traçar algumas vias pastorais para a prática da justiça evangélica no mundo moderno. Avançaremos nosso estudo seguindo as reflexões da II Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos ocorrida em 1971, que gerou o documento intitulado “A justiça no Mundo”.

O primeiro passo para a prática das bem-aventuranças é o reconhecimento de que o homem é dotado de uma dignidade própria, em virtude da sua imagem e semelhança com o seu criador (A justiça no mundo, n. 36-38). Numa sociedade moderna, com componentes justos, verdadeiramente preocupados com todos que a integram, procura-se manter sempre o respeito e a dignidade. As leis desse agrupamento, organizada pelos seus representantes políticos, devem, necessariamente, transparecer a moral e os valores fundamentais necessários para o crescimento do grupo. Quando se opta pela valorização do “ser” em vez do “ter”, dificilmente alguma ação empreendida será injusta. Portanto, é nesse ponto que podemos falar da atuação eclesial no meio social em vista da implantação do Reino de Justiça e Paz.

Num segundo momento, a Igreja desenvolveria a prática da justiça testemunhando as verdades últimas que recebeu do próprio Deus. Nesse sentido, busca com todo ânimo a conversão do homem pecador, o estabelecimento da fraternidade, e como consequência, a prática da caridade e do direito (A justiça no mundo, n. 39-41). A exigente tarefa dada aos cristãos por Jesus – evangelizar e resgatar do pecado –, deve atingir, em última instância, cada relação tecida entre um e outro indivíduo que compõe a sociedade.

Por último, ressaltamos a necessidade de uma verdadeira educação para a justiça (A justiça no mundo, n. 49). Importa ensinar nas pastorais, movimentos, os jovens e as crianças, a unidade e a solidariedade para com o próximo. Partindo de um método educativo que fomente na consciência o desejo de viver uma retidão e coerência de vida, deve-se inculcar no fiel a necessidade de dar a Deus e aos irmãos aquilo que lhes é devido (CIC § 1807). A Deus devemos nosso coração indiviso e fiel, aos homens, nosso agir honesto, honrado e sério.

Diác. Roberto César Braga
Diocese de Uruaçu

 

Referências bibliográficas:

Fracisco, Papa. Galdete et exsultate. 1ª Ed. Editora Paulus, 2018.
A justiça no mundo. Disponível em: https://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_19711130_giustizia_po.html. Acesso em 22/01/2022.
Catecismo da Igreja Católica. 1ª ed. São Paulo: Edição típica Vaticana, Loyola, 2000.