Filho do carpinteiro… antes, do Arquiteto.

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A certa altura, os ensinamentos de Jesus na sinagoga de sua terra provocam assombro nas pessoas: como poderia o filho do conhecido Zé da Maria ter tanta sabedoria? Quando os cidadãos admirados dizem: não é Ele o filho do carpinteiro? (Mt. 13,55), expressam ao mesmo tempo uma afirmação e uma dúvida. Que mistério subjaz naquela difícil compreensão?

Sim, Jesus é o filho de Maria e José, mas não apenas… há algo maior, que lhe confere identidade de um sábio e grande em obras. Antes de filho do carpinteiro, Jesus é filho do Divino arquiteto do universo, como Ele mesmo afirmou aos doze anos, no templo de Jerusalém.

Por isto, ao voltar nosso olhar para a carpintaria, encontramos no trabalho um ponto de intercessão entre o humano (José) e o divino (Iahweh). Onde Jesus passa a maior parte de sua vida é notória a associação do trabalho ao mistério da encarnação do Verbo de Deus. Ao entrar numa família da comunidade de Nazaré, Cristo assume todos os aspectos do ser humano, e ali começa a redenção, superando a nuance de castigo (Gn. 3,19) que pesava sobre os pecadores. O trabalho é a expressão do dinamismo da vida, lugar de criatividade e exercícios físicos, do ganha pão cotidiano, da prestação de um serviço a quem dele precisa, de progresso dos povos e ocasião para as relações sociais.

Mormente, depois do Verbo Eterno na carpintaria de José, o trabalho é também meio de santificação, ele é um jeito de amar o próximo. Como explicou o papa João Paulo II: “A expressão cotidiana deste amor na vida da Família de Nazaré é o trabalho de carpinteiro (…). Juntamente com a humanidade do Filho de Deus, o trabalho foi acolhido no mistério da Encarnação e redimido de maneira particular” (RC, 22). “Suportando o que há de penoso no trabalho em união com Cristo o homem mostrar-se-á como verdadeiro discípulo de Jesus, levando a cruz de cada dia nas atividades que é chamado a realizar (…). O suor e a fadiga, que o trabalho comporta proporcionam a todo homem a possibilidade de participar no amor à obra que o mesmo Cristo veio realizar” (LE, 22 e 27).

Esta teologia, da Encarnação e Redenção realizada por Jesus Cristo, não poderia excluir ou ignorar a presença e função de José, o carpinteiro. Oportunamente foi que, aproveitando o dia do Trabalho inaugurado em Chicago no ano de 1886, o papa Pio XII estabelece a festa de São José Operário em 1955, colocando-o como ícone de quem santifica o trabalho e pelo trabalho se santifica, obedecendo a Deus e servindo ao próximo.

Sim, é melhor trabalhar do que ficar à toa. Quem é à toa atrapalha: não se exercita fisicamente como deveria; a cabeça desocupada pode ser oficina do diabo; deixa de imitar Deus que trabalhou e se junta ao diabo por conta da inveja e orgulho sobre os bens alheios; depende da bondade dos outros ou passa a roubar para sobreviver; hora dessas e mais cedo vai parar na cadeia ou cemitério. Ao passo que, quem trabalha sofre, mas se alegra com a consciência tranquila: não se torna pesado aos outros; realiza seus sonhos; é útil aos outros fazendo bem o próprio dever; melhora o mundo com sua atuação técnica, estética e ética; obedece a Deus que colocou a obra criada sob nossa responsabilidade.
Queremos frutos? Exerçamos o labor e o Senhor nos recompensará. Trabalhemos, reservando o tempo do justo repouso e da adoração! Assim o fez o filho do carpinteiro… antes, Filho do Eterno arquiteto do mundo.

(Pe. Crésio Rodrigues – 1º. de maio de 2023)