FORA CORRUPÇÃO!

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O presente e futuro do Brasil não estão somente nas mãos de um juiz ou promotor, de um deputado ou senador ou presidente ou ainda de um empresário. O futuro de paz, justiça e prosperidade, desejado por todos, está nas mãos de cada brasileiro. Porém, o câncer da corrupção está destruindo esta esperança. O amor à nossa Pátria está se desfalecendo. Resta-lhe pouco fôlego. O dilúvio de denúncias, de investigações e de julgamentos sobre a corrupção no setor público decepciona e envergonha a muitos brasileiros. Os fatos notórios revelam que a corrupção brasileira é tão profunda quanto um poço de petróleo ou até mesmo superior a ele. Além disso, os grandes símbolos nacionais, capazes de reunir o sentimento patriótico, não têm dado o sabor de vitória aos pobres filhos desta mãe gentil. O quadro é complexo e crítico. O Brasil corre o risco de não mais acreditar em si.

Neste contexto, a CNBB fez algumas afirmações: «a superação da crise passa pela recusa sistemática de toda e qualquer corrupção, pelo incremento do desenvolvimento sustentável e pelo diálogo que resulte num compromisso entre os responsáveis pela administração dos poderes do Estado e a sociedade. É inadmissível alimentar a crise econômica com a atual crise política. O Congresso Nacional e os partidos políticos têm o dever ético de favorecer e fortificar a governabilidade» (Nota da CNBB sobre o momento atual do Brasil, 10 de março de 2016).

Em outros microfones e praças um grito se faz ouvir: “Fora PT!”. Alguns membros deste partido se sentiram injustiçados e se ergueram como vítimas expelindo o “veneno” que ainda lhes restava. E se perguntaram: por que “fora PT”? Eu me arrisco a responder.

Pode haver aqueles que, pelo simples fato de serem de um partido contrário, exercem irresponsavelmente o papel de oposição e querem derrubar o PT para assumir o poder, ainda que seja desrespeitando o Estado de direito. Pode haver também aqueles que querem ver o PT fora do governo não porque perseguem este partido ou têm ódio dele, mas por ele ter feito cancerígenas alianças com a corrupção mediante alguns dos seus líderes. Este tipo de brasileiro não é agressor de ninguém. Ele é um trabalhador que, com grande esforço, garante o sustento de sua família, busca promovê-la com o suor honesto, contribui com o bem comum e se indigna com os trapaceiros de colarinho de qualquer cor.

Assim, não se deseja ver fora o PT pelo PT, mas a corrupção com a qual ele se aliou e implantou uma política de poder. Como a corrupção não existe por ela mesma, mas é a qualidade de algo ou de alguém, para excluir a corrupção na política é necessário excluir o sujeito corrupto. Após a sua regeneração moral é que se pode cogitar a possibilidade de lhe confiar um cargo. Assim, fora todo e qualquer partido político corrupto! Fora as pessoas corruptas, em nome do bem de vocês mesmos e desta grande nação brasileira!

Desta maneira, não se trata de querer substituir o oprimido pelo burguês, o escravo pelo senhor, o pobre pelo rico, o analfabeto pelo doutor. Trata-se do desejo de gerar desenvolvimento para uma nação, de suscitar esperança para um povo enganado e desiludido, de abrir novos horizontes de crescimento integral. E isto não acontece quando a corrupção já se tornou uma metástase fatal, como parece se encontrar o ambiente político do nosso país. O único futuro que a corrupção nos dá é a miséria e, em seguida, a morte. É isto que nós queremos? Neste contexto, afirmou papa Francisco: «não se pode fundar nada que seja bom no enredo da mentira ou na falta de transparência. Procurar e escolher sempre a verdade não é fácil; contudo é uma decisão vital, que deve marcar profundamente a existência de cada um e também da sociedade, para que seja mais justa, para que seja mais honesta. […] A vida de cada comunidade requer que se combatam pela raiz o cancro da corrupção, da exploração humana e laboral e o veneno da ilegalidade. Dentro de nós e juntamente com os outros, nunca nos cansemos de lutar pela verdade e pela justiça» (Encontro com o mundo do trabalho – Prato, 10 de novembro de 2015). Ao se dirigir aos paraguaios, Francisco disse: «a corrupção é uma traça, é a gangrena de um povo» (Encontro com os representantes da sociedade civil, 11 de julho de 2015).

Com estas ideias não pretendo uma sociedade incorrupta: pura ilusão! Onde há pessoas, sempre há os limites e as imperfeições. Contudo, é intolerável quando a corrupção se torna uma cultura ou um enraizado modo de ser, sistemático e orgânico, como tem mostrado ser a prática de tantos brasileiros. As últimas operações do poder judiciário e polícia federal revelam este lamentável e vergonhoso quadro.

A acumulação de decepções coletivas representa um grande risco para um povo. No entanto, como diz o nosso hino nacional: «se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta», mesmo diante do poço de corrupção, acredito que em cada brasileiro ainda habita aquele espírito que faz de nós um povo orgulhoso de sua terra onde grandes sonhos foram realizados e outros ainda maiores desejam sê-lo. O papa Francisco, ao visitar a comunidade de Varginha (Manguinhos), no Rio de Janeiro, sabendo da desilusão causada pelas notícias sobre corrupção, deixou-nos uma palavra de motivação e direcionamento para superar a crise: «nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo com o bem. A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio “para que todos tenham vida, e vida em abundância” (Jo 10,10)» (Visita à comunidade de Varginha (Manguinhos) – Rio de Janeiro, 25 de julho de 2015).

Pe. Francisco Agamenilton Damascena