Olhar a Igreja e o mundo

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A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em sua 58ª Assembleia Geral, tratou do importante exercício de “olhar” a Igreja e o mundo. Realizada de 12 a 16 de abril, no ambiente digital, a Assembleia foi emoldurada também por momentos de oração, reunindo quase quatrocentos participantes, entre bispos, bispos eméritos, presidentes de organismos da Igreja, assessores, diáconos e padres, cristãos leigos e leigas, consagrados e consagradas. “Olhar” a Igreja e o mundo, exercício da Assembleia, integra a missão de cada bispo junto ao seu povo, na sua diocese, em cumprimento ao mandato do Senhor Ressuscitado. Cristo, antes de subir ao céu, dá aos primeiros apóstolos a responsabilidade de ir pelo mundo inteiro pregar o Evangelho a toda criatura, fazendo com que todos se tornem discípulos e discípulas de Jesus, o único mestre e senhor.

O exercício espiritual de “olhar” a Igreja e o mundo, no contexto das Assembleias da Conferência Episcopal, se alicerça na comunhão e na fraternidade. Os bispos se unem em colegialidade para fecundar seus caminhos no exercício da missão, sempre com autonomia e no horizonte dos valores inegociáveis do Evangelho, dos tesouros da doutrina e da tradição da Igreja. A congregação dos bispos da CNBB em Assembleia é o vértice de um caminho missionário percorrido e vivenciado em diferentes realidades de um mundo plural, a ser banhado com a luz de Cristo. As largas vias deste itinerário missionário incluem, pelo anúncio da Palavra de Deus, luz para o caminho, lâmpada luzente para os pés – conforme canta o salmista – participar das alegrias e tristezas, vitórias e derrotas do Povo de Deus, a caminho, neste mundo, rumo ao reino definitivo.

A ação missionária da Igreja – que é servidora, sinal e sacramento de salvação – se efetiva a partir do compromisso insubstituível com a vida, primeiro e maior dom de cada pessoa. A Igreja se dedica à defesa e à promoção da vida desde o momento primeiro, na concepção, até o último, com o declínio na morte natural. Por isso mesmo, os pastores do Povo de Deus têm o permanente dever de olhar a Igreja e o mundo. Trata-se de compromisso missionário, exercício desafiador que cada integrante do episcopado assume quando pastoreia, com autonomia, a porção do Povo de Deus que lhe foi confiada, incluindo grupos, segmentos, colaboradores. O exercício de “olhar” a Igreja e o mundo é também experiência de comunhão, de partilha, de fortalecimento e solidariedade, em tudo, congregados como Conferência Episcopal. Uma experiência alicerçada na consciência de que todos pertencem à Igreja, presente no mundo inteiro.

A CNBB está a serviço da comunhão solidária, das experiências e partilhas que fortalecem e consolidam a missão de anunciar Jesus Cristo a cada pessoa. Não constitui instância de governo da Igreja em nível nacional. A força da comunhão colegial entre os bispos tem o Papa Francisco como referência primeira. O Papa é o chefe do Colégio dos Bispos do mundo inteiro, sucessor do apóstolo Pedro, constituído pelo próprio Cristo para essa missão.

A Assembleia Geral Ordinária da CNBB é um evento culminante de caminhos, práticas, serviços, partilhas, articulações, troca de experiências, escolhas fortalecedoras e correção de rumos para que a Igreja cumpra, na sua missão, o desejo de Jesus, seu Mestre e Senhor. Um desafio que requer dedicar atenção ao mundo e à própria Igreja, movimento com exigências relevantes e necessidades urgentes. A Assembleia Geral é o órgão máximo da CNBB, considerando as suas muitas instâncias constitutivas, que fortalecem sempre mais a comunhão, a participação e os serviços evangelizadores. A realização da Assembleia oferece aos bispos todos do Brasil a possibilidade de aguçar continuamente o olhar sobre o conjunto da Igreja. Uma oportunidade rica de avaliações, compartilhamentos de experiências, revisões e ajustes. Investimento na unidade que promove riquezas pastorais e espirituais, fontes de autonomia e de qualificação contínua no exercício do pastoreio. É clara a consciência da importância dessa comunhão sinodal, fecundando a missão de cada pastor junto ao seu rebanho, uma prática iluminada pelo Evangelho de Jesus – todos são aprendizes e servidores.

A importância da Igreja, com a sua voz e compromisso, no coração da sociedade, cumprindo, obedientemente e de modo profético, a missão recebida do seu Senhor, é reconhecida. Sublinhe-se que o mandato desta missão, há mais de dois mil anos, constitui serviço evangelizador essencial e indispensável, merecendo sempre respeito irrestrito nos parâmetros democráticos de todas as sociedades. Um serviço que está para além de novas legislações e decretos. A Igreja, presente na humanidade, sempre a serviço da vida, “olha” o mundo e desempenha seu papel educativo ao anunciar o Evangelho, contribuindo para a construção da sociedade, da cultura da paz e da solidariedade. Um desafio enorme: fazer com que a voz da Igreja seja cada vez mais ouvida, considerando a disputa de outros sons pela atenção das pessoas, incluindo desvarios de interpretações e posicionamentos marcados por extremismos.

A voz da Igreja, mantendo o uníssono que ecoa de seus tesouros inesgotáveis, continua a inspirar a formação de coros capazes de impulsionar o surgimento de um novo tempo, marcado pelo humanismo integral e pelo reconhecimento de que a vida é dom precioso, inviolável, semeando a solidariedade dedicada especialmente aos pobres e sofredores. A voz da Igreja, articulada nas Conferências Episcopais de diferentes nações, jamais é ecoada com a pretensão descabida de regência totalitária do mundo. Ao invés disso, a Igreja busca congregar, pela força da atração, prestando, de modo irrenunciável, o seu serviço essencial, por saber que tem o melhor para oferecer: Jesus Cristo, o Salvador e Redentor de seu povo na Igreja e no mundo.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (BH)