“Ide e Fazei discípulos meus…”

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1886

“Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quando vos ordenei.” (Mt 28, 19-20a). A tônica do evangelista em concluir o Evangelho com um tom de início, começo revela que a Boa Notícia sempre precisa ser propagada, levada a todos sem quaisquer exceções. Tendo se assentado aos pés do Divino Mestre, faz necessário, um levantar que carregue consigo o transbordamento da experiência vivenciada.

O Ide de Jesus é característica do despojamento, do desprendimento e da saída daquele que se abre à escuta e a alegria pela adesão ao convite do Eterno Chamante. A Igreja tem como missão fazer vida e perpetuação esta convocação. Ela mesma nasceu, tem como essência deste Ide, que se configurou na história de tantos homens e mulheres de boa vontade que entregaram tudo de si, para que, o que eles experimentavam enquanto plenitude, preenchesse os vazios existenciais de muitos.

No que se refere ao “Fazer discípulos todas as nações”, precisa-se levar em consideração que o discipulado, a propagação do Evangelho é fruto do sair de si mesmo e do partir em direção daquele que é o destinatário do mistério salvífico. Uma “Igreja em saída” é ser um povo que caminha para Deus, que parte para o encontro com o outro, no cumprimento do Seu querer. O Papa Francisco a este respeito descreve na sua primeira Exortação Apostólica, A Alegria do Evangelho: “A evangelização é dever da Igreja. […] Trata-se certamente de um mistério que mergulha as raízes na Trindade, mas tem a sua concretização histórica num povo peregrino e evangelizador […]” (EG, n. 111)
Assim uma “Igreja em saída”, compreende a paróquia não como algo que encerra nela mesma, porém como extensão, parte tão ínfima, de uma Instituição (não meramente material) que transcende o tempo e o espaço. A Igreja em Saída é uma Igreja da proximidade, da partilha, da comunhão recíproca e verdadeira. A exemplo do Bom Pastor que está sempre pronto a sair e resgatar a ovelha perdida, desgarrada, deve estar pronto todo o homem que se diz cristão.

Neste viés a proximidade gera vínculo e comprometimento, um abrir-se para a graça. Por meio desta dinâmica se acentua o batismo em Nome da Trindade Santa: “batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, (cf. Mt 28, 19). A própria Trindade se manifesta no transbordar do envio, do envio do amor. O Pai que sendo Amor (cf. 1 Jo 4, 8c) envia o Filho, sendo este o próprio Amado (cf. 1 Jo 4, 14) e o Pai e o Filho enviam o Espírito Santo o Amor doado.

A missão é a unidade da Trindade, é diretriz, o fundamento, o alicerce da vida toda do cristão, no “envio do anúncio, do testemunho e da difusão do mistério da comunhão da Santíssima Trindade” (cf. CEC 738). A saber, que este mistério da comunhão da Santíssima Trindade se estabelece sobretudo no Amor, de tal modo, a vocação missionária necessita ser vivida no Amor.

Vale ponderar que esta pedagogia missionária necessita da adesão livre, consciente e total do discípulo. A vida do discípulo está no agir e pensar em conformidade com o Mestre, que o ensina e o convida a uma vivência sempre mais radicada no seguimento.

A missão é um itinerário de caminhar junto a Cristo. Deixando ser conduzido por seus passos, são eles que motivarão e darão o sentido do caminho a ser percorrido. O discipulado se faz no ouvir, sabendo que o ouvir é sempre ligado na Sagrada Escritura no empenho da obediência, na entrega sem reservas. Somente um coração vazio de si mesmo e abnegado é capaz de ser preenchido por Deus.

O discípulo missionário está sempre em volto do acreditar, celebrar e viver. Acredita porque traz a firme convicção das Palavras por ele ouvidas e anunciadas. E celebra porque vive na certeza que tudo é dom, entrega, oferecimento e presença contínua do Amoroso e Misericordioso. Como diz o Santo Padre o Papa Francisco na Carta Encíclica sobre o Cuidado da Casa Comum: “Deus, que nos chama a uma generosa entrega e a oferecer-Lhe tudo, também nos dá forças e a luz de que necessitamos para prosseguir.[…] Não nos abandona, não nos deixa sozinhos.” (LS n. 245)

A Igreja tem como natureza a missionariedade, desde sua essência é uma Igreja missionária (cf. AG 2). A Missão conduz a vivência radicada no Anúncio, no serviço, na proximidade do povo, no cumprimento e efetividade do mandato de Cristo.

O mandato missionário pode ser entendido como a súmula da Boa Nova do Reino. Nele se expressa o querer salvífico do Pai, que envia seu Filho e o mesmo como enviado do Pai, convoca a todos a serem luz na vida daqueles que jazem nas trevas. Esta incumbência apostólica está impregnada por uma vida que se desinstala, que se coloca na prática concreta do seguimento.

Por fim, a Adesão do discípulo ao convite do seu “Ide e fazei discípulos meus…” se estabelece e se encerra na oblação de si mesmo, para a obra Daquele que envia. O discípulo dará maior adesão à medida que for íntimo de Deus, servo atento, vazio e reconhecer que o êxito da Missão não está em seu ser, senão Naquele que decorre todo bem, providência e Amor.

Pe. Raynner Leonardo