Na Missa de abertura da etapa diocesana do Sínodo dos Bispos, Dom Giovani destaca: “Precisamos ir ao encontro do outro, com ouvidos atentos e o coração cheio do amor do Senhor”

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No domingo, 17 de outubro, aconteceu a missa de abertura da etapa diocesana do Sínodo dos Bispos convocado pelo papa Francisco, que tem como tema “Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, participação e missão”. O evento segue um caminho em três etapas, diocesana e continental, até outubro de 2023. O papa propõe uma modalidade inédita para a preparação deste grande evento com uma primeira fase vivida em trabalho de escuta em cada diocese e depois um outro momento alargado ao âmbito continental, com o objetivo da escuta real do povo de Deus para que seja possível “garantir a participação de todos no processo sinodal”, conforme nota da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos.

A missa de abertura foi presidida pelo nosso bispo diocesano, Dom Giovani Carlos, e concelebrada pelos padres Rodrigo Garcia (coordenador diocesano de pastoral); Franciel Lopes (pároco da Catedral); André Luís do Vale (pároco da Paróquia São Sebastião – Uruaçu); Thiago Alvarino (pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças – Rialma); padre Valdeci José Magalhães (pároco da Paróquia Santo Antônio Maria Claret – Hidrolina); e padre Gilson Luiz (pároco da Paróquia Santa Tereza – Santa Tereza de Goiás).

Na missa de abertura, Dom Giovani refletiu sobre o evangelho do dia (Mc 10,35-45) em que os discípulos Tiago e João, filhos de Zebedeu, pedem a Jesus de sentarem-se um a sua direita e o outro a sua esquerda quando ele estiver em sua glória. “Os discípulos estão na contramão do caminho de salvação”, disse Dom Giovani em sua homilia. Segundo ele, ao exigirem do Senhor, que faça a vontade deles, revelam querer estar com quem tem poder para dominar os outros. “Eles querem o trono do poder. Não querem estar ao lado de Jesus, mas acima dos outros. Querer estar ao lado de Jesus é ainda entender Jesus como líder político. Eles querem estar ao lado de quem tem poder para ter poder sobre os outros”, afirmou o bispo.

Dom Giovani explicou que os discípulos não entenderam o projeto salvífico de Jesus. “Os chefes das nações oprimem e tiranizam, mas dentre vós não deve ser assim. O modelo de Jesus é ser servo, escravo de todos porque o filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e se doar. O Cristianismo tem como predisposição dar a vida pelo irmão. O movimento de Deus é sempre em nossa direção. Ele não precisaria da criatura, não precisaria criar o homem à sua imagem e semelhança. Ele vem numa manjedoura, se faz escravo, e se agacha diante dos discípulos e lava-lhes os pés, que era a função de um escravo. Ele dá a sua vida, morre entre ladrões, o seu movimento é todo descendo, se abaixando, se humilhando, depois ele morre e se abaixa e vai até os infernos a resgatar os que estão perdidos. Quer dizer, o seu movimento é sempre descendo”. O movimento do diabo, por sua vez, conforme Dom Giovani, é sempre subindo. “Ele quer ser como Deus. Por isso a frase de São Miguel Arcanjo, ‘quem como Deus’. E os discípulos se igualam a Satanás neste movimento de querer subir e a própria palavra vai dizer: ‘Deus resiste aos soberbos, aqueles que querem subir, mas dá sua graça aos humildes’”.

Sínodo dos Bispos
A reflexão do evangelho conduziu Dom Giovani a falar depois do Sínodo dos Bispos. Viver a sinodalidade que a Igreja propõe, de acordo com ele, é não fazer como os discípulos Tiago e João, isto é, não querer estar acima, mas estar com. Essa é a chave de compreensão do termo sinodalidade. “Os discípulos não queriam estar com, queriam estar acima dos outros. A sinodalidade é querer estar com o outro ao invés de estar acima do outro. O papa Francisco está nos orientando e já falou da Igreja em saída e para os mais necessitados, aqueles que mais precisam. Movimento de abaixar, de não estar num pedestal para enviar mandamentos e normas, mas estar ao lado. O próprio Jesus quando ia curar perguntava: ‘o que queres que eu faça?’ Ele poderia apenas curar, mas ele travava um diálogo. A Samaritana, por exemplo, os judeus não falavam com ela, mas Jesus se senta ali com a mulher pecadora. Ele, o Santo dos Santos, se abaixa, trava um diálogo, escuta o que ela tem a dizer, mas não deixa de anunciar, não deixa de ser o que é. Ele escuta e na escuta ganha a mulher e toda a cidade da Samaria porque os homens foram lá e passaram a acreditar em Jesus. Esse é o movimento que o papa quer para a Igreja”, explicou.

Devemos ser o que Jesus foi. Ele não estava nos palácios, mas nas ruas encontrando o cego de Jericó, a mulher pecadora. A sua salvação chega através do seu olhar, do seu falar e do seu diálogo. Nós recebemos muito do Senhor, mas ele quer alcançar ainda hoje, principalmente hoje, todos aqueles que mais precisam de sua voz, do seu olhar, da sua palavra, dos seus ouvidos para ouvir. Ele quer fazer por meio de nós Igreja Católica

A Igreja não quer olhar o mundo de cima
Dom Giovani disse que com o Sínodo a Igreja quer ir ao encontro das pessoas, não as olhar de cima. “O papa fala de Igreja em saída que é justamente não ter medo das pessoas, não ter medo de ser o que é, não ter medo de ir ao encontro da palavra, ou daquilo que recebemos de Deus: a escuta, a misericórdia, a bondade, a caridade. Devemos ser o que Jesus foi. Ele não estava nos palácios, mas nas ruas encontrando o cego de Jericó, a mulher pecadora. A sua salvação chega através do seu olhar, do seu falar e do seu diálogo. Nós recebemos muito do Senhor, mas ele quer alcançar ainda hoje, principalmente hoje, todos aqueles que mais precisam de sua voz, do seu olhar, da sua palavra, dos seus ouvidos para ouvir. Ele quer fazer por meio de nós Igreja Católica”.

É por meio do Sínodo que o papa quer fazer tudo aquilo que fez Jesus, disse ainda Dom Giovani. “O papa olha lá para baixo e quer alcançar os pequeninhos do Senhor com o nosso olhar, com a nossa voz, com o nosso ouvir, isso é sinodalidade. Ir ao encontro, como Maria o fez: ‘Grandes coisas o todo poderoso fez em mim, ele fez em mim maravilhas. Me chamarão de bem-aventurada como o anjo veio’, o Espírito Santo veio sobre ela que carregava o salvador da humanidade e ela foi caminhando num lugar distante, para lavar as louças, limpar o banheiro, varrer a sala, ajudar a sua prima Isabel. Percebem o movimento de Maria? É o mesmo movimento de Jesus: ‘eis aqui a serva, a escrava’. Olha como Maria se antecipou porque vai dizer: ‘o filho do homem veio para servir e não ser servido’”.

Por fim, Dom Giovani motivou nossa Igreja a ir ao encontro. “Precisamos ir ao encontro do outro, com ouvidos atentos, o coração cheio do amor do Senhor que sofreu por nós, deu a sua vida por nós, se fez tão pequeno, que até cabe na palma das nossas mãos através da Eucaristia e se dá como alimento totalmente vulnerável, mas Deus todo poderoso não deixou de ter o seu poder, mas se fez humilde pela Eucaristia. Ele que se fez pão por nós para nos alimentar. A ele a glória, a honra, o poder. Que sejamos servos, escravos, em sinodalidade. Amem!”.

Fotos: José Thomas – Paróquia Sant’Ana – Catedral

Redação: Raimunda Araújo – Estagiária, estudante de Jornalismo da PUC Goiás. Supervisão: Jornalista Fúlvio Costa.