Os desafios missionários do Projeto Igrejas-Irmãs

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Visto como uma das maiores forças missionárias da Igreja no Brasil, o Projeto Igrejas-Irmãs, fundado em 1972 e que tem sido desenvolvido ininterruptamente até hoje, identificou alguns desafios que devem ser incorporados ao novo programa de atuação que será revitalizado, com a revisão e atualização de suas perspectivas.
Dentre as propostas apresentadas, no encontro realizado em Belém (PA), em novembro do ano passado, está a necessidade de envio de missionários não só para Amazônia, mas também para o norte de Minas Gerais, como destaca o bispo auxiliar de São Luís do Maranhão (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Missionária e a Cooperação Intereclesial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Esmeraldo Barreto de Farias. “Nós temos diocese como Araçuaí (MG), Janaúba (MG) e outras mais do norte de Minas que tem muitas necessidades de pessoas para ajudarem no trabalho de evangelização e também de recursos financeiros. São regiões muito pobres e o trabalho exige muito recurso para se levar adiante”. Dom Esmeraldo ressalta ainda que esse desafio de enviar missionários é muito importante para o trabalho das Igrejas-Irmãs. “É uma ajuda mútua, quem envia é beneficiado, quem vai missionar volta muito enriquecido, e quem recebe bota as mãos para o céu e agradece a Deus porque não é fácil viver num lugar sem pessoas no caso: padres, religiosos e leigos missionários que possam ajudar nesse trabalho de evangelização”, conta.
Nos últimos 40 anos a situação na Amazônia mudou. As cidades amazônicas cresceram muito, algumas viraram grandes metrópoles ao longo dessas quatro décadas. Manaus e Belém, por exemplo, juntas, ultrapassam os 3 milhões e meio de habitantes, tal situação de urbanização traz uma mudança muito grande para realidade desse projeto, revela dom Esmeraldo. “Outro desafio que podemos destacar é em relação ao modelo de desenvolvimento que foi praticamente imposto à Amazônia. É um modelo de desenvolvimento predatório. Então, se nós olhamos a situação da Amazônia há 40 anos, e toda a Amazônia legal, que inclui Mato Grosso, Rondônia e parte do Maranhão e Tocantins, nós não tínhamos naquela época todo o desmatamento que temos hoje, a entrada da criação de gado em larga escala. Não tínhamos toda a mineração que temos hoje, nem as hidrelétricas que temos hoje. Esse modelo que desenvolvimento que foi imposto suga da Amazônia tudo aquilo que as riquezas da região podem dar, mas causando muitos prejuízos para os povos nativos, para aqueles que foram morar lá e também para a própria natureza da amazônica”, lamenta.
Ato concreto
A expectativa dos envolvidos no projeto é apresentar as propostas discutidas à 55ª Assembleia Geral da CNBB, que acontecerá de 26 de abril a 5 de maio, em Aparecida (SP). “Esta é uma proposta importante que nasceu desse encontro, que é fazer com que a Assembleia Geral da CNBB, que virá no final de abril possa também tomar conhecimento desse encontro e dessas propostas”, afirma o bispo.
Além disso, outra proposta concreta é retomar a reflexão do texto de estudos número 100 da CNBB (coleção verde) que fala sobre a missão e cooperação missionária. A intenção é fazer uma revisão e ver o que mais pode ser acrescentado ao texto a partir das sugestões do encontro. Além disso, busca-se realizar um trabalho de sensibilização de seminaristas para que continuem com as experiências missionárias de irem para a Amazônia e para outros lugares que necessitem. “A meta é incentivar os seminaristas para que possam criar gosto, para que eles possam sentir que o chamado é de Deus. A missão é um chamado de Deus para que possamos cooperar com Ele no trabalho de evangelização, ajudando a formar comunidades e formar pessoas para assumirem essas comunidades”, diz dom Esmeraldo.
Formação
A formação dentro do projeto Igrejas-Irmãs é outro ponto importante destacado no encontro realizado em novembro, em Belém (PA). A missão precisa ser o princípio articulador de todo o processo formativo e se faz necessária na formação continuada dos presbíteros, dos religiosos e dos leigos. “A missão se faz com as mãos daqueles que ajudam, com os joelhos daqueles que rezam, que suplicam a graça de Deus com o coração de quem ama, e com os pés daqueles que partem ao encontro das pessoas”, enfatiza dom Esmeraldo. Ele explica que são oferecidas formações para os missionários no Centro Cultural Missioário (CCM), em Brasília, e, de forma específica para os que vão atuar na Amazônia, há cursos nos centros de Pastoral em Belém, Manaus (AM) e Porto Velho (RO).
Histórico
“O projeto Igrejas Irmãs foi criado pela CNBB, em fevereiro de 1972, depois que a sua presidência visitou várias dioceses e prelazias da Amazônia. Nesse mesmo ano, os bispos da Amazônia estiveram reunidos em Santarém (PA) e elaboram um documento que ainda hoje é marca importante para o trabalho de evangelização na Amazônia”, conta o bispo auxiliar de São Luís e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária da CNBB, dom Esmeraldo Barreto de Farias.
O objetivo do Projeto Igrejas-irmãs é partilhar a fé, os dons da graça, as experiências pastorais, pessoas e recursos financeiros como gestos de caridade cristã para com as Igrejas da Amazônia e outras também necessitadas. “A Igreja que envia missionários também é beneficiada pelas experiências que vê e das quais participa através dos missionários que foram enviados”, sublinha dom Esmeraldo.
No início, o projeto teve forte repercussão e um grande número de missionários foi enviado para a Amazônia e para o Nordeste. Somente a diocese de Caxias do Sul (RS), pioneira nesse projeto, enviou de 1972 a 1985, mais de 100 missionários para as regiões.
De 22 a 25 de agosto de 1989, a Comissão da CNBB responsável pela dimensão missionária organizou um encontro com representantes das Igrejas Irmãs. A fim de dinamizar o projeto, os bispos ressaltaram a missionariedade da Igreja, evangelização das culturas, atendimento a situações missionárias mais desafiadoras, a missão como eixo da formação. Os seminários e casas de formação, de acordo com os apontamentos dos prelados, deveriam proporcionar aos formandos a experiência da comunidade apostólica chamada ao seguimento de Jesus missionário. Também foi uma proposta da época a formação de um clero local, a participação dos leigos e a missão ad gentes. Também foi assumida a constituição de uma coordenação.
Por CNBB